Sabe aquela vontade única de criar, mas sem saber exatamente o quê? Eu sinto isso com frequência. E, honestamente, acho que não sou só eu.

Até onde eu me lembro naquela época era mais sobre compartilhar. Seja porque gostamos de jogar ideias pra fora ou simplesmente porque achamos legal a ideia de sermos ouvidos, sem necessariamente saber por quem. (E quando eu falo “saber por quem” isso abre camadas para muitas coisas num campo de timidez, julgamento, etc.)

A verdade é que eu nem entendo mais o que exatamente eu estou fazendo aqui (no campo online). E acredito que tem muita gente que também tem essa mesma sensação. E talvez seja exatamente isso: um bando de perguntas sem respostas concretas aparentes (ainda). Mas ainda assim resolvi colocar essas questões pra fora, porque ainda acredito que tem algo nisso tudo que vale a pena dividir (ou só tirar da cabeça), mesmo que eu ainda esteja tentando entender o que é.

E talvez a prática realmente leve a perfeição, mas todo processo de prática requer erros e foi exatamente aí que pararam as lições. Não nos ensinaram a errar, a "não chegar até lá". E se nos ensinaram, ouso dizer que foi meio errado...

Acredito que apesar de o BBB 2024 já ter sido finalizado e os rumores dá vez serem sobre a "separação" de Davi e Mani, a reação da Alane chamou atenção de muitas pessoas inclusive da bolha dos bailarinos. Na última semana vi alguns bailarinos que acompanho e admiro se manifestarem sobre o breve epsódio, e de fato, hei de concordar com o posicionamento deles.

"...Fazer ballet por muitos anos desenvolve uma disciplina, um foco, um senso de responsabilidade mesmo. Mas, também uma autocrítica que pode ser positiva, mas muito facilmente vai pro lado negativo. No geral essa autocritica vira uma auto cobrança que vai virando uma bola de neve...", diz a Larissa Del'Santo bailarina profissional em um reels postado na conta @ballet_couple.

Eu sei que não posso me colocar no mesmo lugar de autocobrança que sofre um bailarino que vive da dança, mas posso dizer o quanto a autocritica me separou, por muito tempo, de um dos momentos que mais me fazem sentir prazer em viver.

Posso dizer que em partes me identifico com o contexto da Alane e tantos outros bailarinos ao redor do mundo e que questionar todo esse cenário me faz reafirmar os motivos pelo qual eu tomei a melhor decisão dos ultimos tempos: voltar a dançar.

Pequenos passos marcaram a minha volta na dança, pequenas decisões e pequenos questionamentos fizeram toda a diferença. "Qual a função disso?", a voz da minha terapeuta ecoa nítida e limpidamente na minha cabeça. A função agora precisava ser divertimento, eu não aguentava mais sentir toda eletricidade da música envolver o meu corpo e não acompanhá-la por medo de revisitar o local interno da autocobrança e autocrítica.

Decidi voltar seguindo ritmos mais dinâmicos e foi examente numa aula de Jazz Funk que me propus seguir por essa jornada da dança como alimento para alma. Sem cobranças, sem pensar no peso que precisaria colocar no dedão para sustentar uma meia ponta alta, apenas me divertir com o ritmo da música. Hoje, após quase 2 meses desse desafio, posso dizer que vez ou outra ainda me pego comparando o meu processo de dançar, entretanto tenho conseguido acessar ainda mais endorfina e extase a cada aula.

Para encerrar, deixo aqui a minha indicação da vez: "O Preço da Perfeição", disponível na Netflix.